sábado, 16 de fevereiro de 2008

El Pais entrevista Rowling:Confira abaixo a tradução da entrevista completa, retirada do jornal El Pais.

"Ser invisível… isso seria o melhor…" J.K. Rowling (Bristol, Inglaterra, 1965) ou apenas "Jo", como é conhecida por seus amigos, parece assustada e feliz, assim como Harry Potter, sua personagem. Ela escreveu o primeiro livro porque precisava, e continuou escrevendo até o sétimo, que será lançado dia 21 de Fevereiro (na Espanha) sem olhar para os lados, sem se dar conta do gigantesco número de crianças, jovens e adultos que se tornaram viciados neste enorme livro de magia e realidade que, talvez, seja o mais vendido na história. Harry Potter é seu herói: ele a salvou e, como conseqüência, a tornou emocional: ela o abandonou mas não pode viver sem ele. Ela nos contou isto, nesta terça-feira de manhã, em Edimburgo, onde viveu por anos, na única entrevista que forneceu à mídia espanhola. Nós trouxemos queijo das Asturias para lembrá-la do seu prêmio no "Príncipe de Asturias de la Concordia" e cumprimentos da fundação que cuida dos mesmos. Algumas vezes ela falou, em suas entrevistas, de outra solitária pessoa parecida com ela, Francis Scott Fitzgerald. Esta foi uma oportunidade para falarmos com ela no mesmo tom, o de solidão, morte e melancolia, que são os temas que dominam a última parte de Harry Potter, talvez seu alter ego. P: Você freqüentemente fala de Scott Fitzgerald, um homem melancólico.JK: Sim, eu falei nele para fazer uma distinção entre um escritor que, graças ao talento natural, teve o impulso de escrever e não pode dividir a necessidade de escrever com sua vida social. Eu o mencionei porque nestes dias, com tanta ênfase da mídia, parecem pensar que existe algum tipo de obrigação que diz que um escritor tem de ser uma pessoa pública. No meu caso, as pessoas acham isto porque sou uma autora reconhecida, acham que eu deveria estar concedendo entrevistas e aparecendo em fotografias. As pessoas esperam lhe ver em programas da televisão e esperam que você goste de ser uma pessoa pública, um ator. Mas eu não sou. Eu gosto da vida do escritor. Eu aprecio a solidão. P: Algumas vezes, em Harry Potter, principalmente nos mais recentes, tem havido uma certa quantidade de tristeza e solidão, o que é remanescente de Fitzgerald. JK: Sem dúvidas. É tristeza, que se origina no pesar. E Scott Fitzgerald tinha duas aflições: a de seu talento e necessidade de criar e a aflição de sua vida privada, que era catastrófica. Estas duas aflições são suficientes para levar qualquer um ao alcoolismo. P: Estas aflições podem aparecer naquela hora entre a infância e a adolescência, quando os fantasmas chegam e permanecem com você para sempre. JK: Sim, penso que os adolescentes estão bem cientes da morte. Eles sentem como se estivessem tão pressionados que a morte está a apenas um passo. Eles são pessoas bem frágeis. Na Grã Bretanha, existe um medo de adolescentes, de jovens em geral. E não deveria ser assim. Nós precisamos protegê-los em vez de nos protegermos deles. P: Fale um pouco da morte. Nos sexto e sétimo livros, a morte aparece não apenas como uma palavra ou pensamento, mas como uma possibilidade, algo óbvio e real. JK: Esta sempre foi a idéia, que a morte deveria aparecer deste jeito. Desde que ele era novo até o capítulo 34 do sétimo livro, Harry é obrigado a aceitar a inevitabilidade da sua própria morte. A trama do livro era que ele deveria ter contato com a morte e com a experiência da morte. E sempre foi o Harry, sozinho, que teve de ter esta experiência. Tudo veio à tona, porque o herói teve de viver estas coisas, fazer estas coisas, ver estas coisas por conta própria. Faz parte do isolamento e da tristeza que vêm com o fato de ser um herói.P: Aquele capítulo 34 (Harry se dando conta de que não vai sobreviver) parece o começo de 100 Anos de Solidão, de García Marquez. JK: Isto é muito lisonjeiro. P: É um livro sobre morte e solidão, como o seu… a personagem de 100 Anos de Solidão acompanha seu avô para ver o gelo e você leva Harry para visitar a morte. JK: Para mim, aquele capítulo é a chave de todos os livros. Tudo, tudo que escrevi, foi pensando naquele preciso momento em que Harry entra na floresta. Aquele é o capítulo que planejei por 17 anos. Aquele momento é a chave de todos os livros. E, para mim, é a última verdade da história. Mesmo que Harry sobreviva, e disso não restavam dúvidas, ele alcança aquele único e raro momento em que tem que aceitar sua própria morte. Quantas pessoas tiveram a oportunidade de aceitar a morte antes de morrer? P: É uma experiência que todos experimentaremos. Quando alguém vê a morte de alguém próximo, pergunta-se como vai ser agora, o que acontecerá depois.JK: Definitivamente. Antinge-me de um jeito extraordinário a negligência do fato de que todos sabemos que vamos morrer, mas que a morte continua um mistério. Nós sentimos como se a morte fosse algo secreto que acontece com pouquíssimas pessoas. E, de repente, alguém próximo a você morre e a bomba é lançada. Harry entendeu a morte prematuramente, muito antes do capítulo 34. E isto é um paralelo evidente com a minha vida. Se alguém perto a você morrer, como minha mãe morreu, o fato da morte atingir a nós todos aparece explicitamente. E esta é uma coisa com que você deveria conviver desde sempre.P: Nós vivemos em tempos sombrios e tristes; você fala disso em seus livros, especialmente neste. Como você vive nestes tempos? JK: Acredito na bondade das pessoas. Acho que as pessoas são, em sua natureza, boas. Mas na verdade, eu continuo assistindo a política americana bem de perto. Estou obcecada com as eleições dos EUA. A situação política dos EUA nos últimos anos vem afetando maleficamente tanto o seu país quanto o meu. P: E se você tivesse uma varinha mágica, o que faria? JK: Eu quero um democrata na Casa Branca. É uma vergonha que Clinton e Obama sejam rivais, porque ambos são pessoas extraordinárias. P: Nesta manhã, vi que você entrou no hotel carregando o The Times em que havia uma foto da Hillary chorando. JK: Bom, era uma lágrima pequenina. E ela pode soltar uma lágrima de vez em quando. Uma vida na política é muito difícil para as mulheres. Se você não chorar, você é uma vaca. Se você chorar, você é fraca. É difícil. Por outro lado, é aceitável que um homem chore. P: Solidão, morte... Estamos falando de coisas sombrias. A melhor literatura vem disso.JK: Bom, acho que foi Tolkien quem disse que todos os livros importantes são sobre a morte. E há alguma verdade nisso, porque a morte é nosso destino e devemos encará-lo. E tudo que fizemos na vida teve a intenção de evitar a morte.P: Você disse que vê sua alma como algo inegável.JK: Sim, é verdade. Mas também disse que tenho muitas dúvidas envolvendo religião. Sinto-me muito atraída à religião, mas ao mesmo tempo me sinto insegura. Vivo num estado de descarga emocional. Eu acredito em uma alma permanente. E isso se refletiu no último livro.P: O que te faz feliz? JK: Família e trabalho, obviamente. Considero-me tão sortuda por ter uma família... meus filhos são, sobre todas as outras coisas, a mais importante. Mesmo que seja difícil ser uma mãe e escrever. P: Antes de te ver, perguntei ao roteirista espanhol, Rafael Azcona, uma pergunta para fazer a você, e ele respondeu que eu deveria perguntar a sua sobrinha Sara, de 6 anos de idade, que é viciada em Harry Potter. JK: Isto é fantástico. P: Mas você disse que deveriam ler seus livros com a idade de 7 anos ou mais.JK: Bom, minha filha mais velha tinha seis anos quando começou a lê-los. Eu sempre soube onde acabaria com os livros. Então, sim, eu acho que uma criança de seis anos de idade pode entender o primeiro livro (Harry Potter e a Pedra Filosofal) mesmo que o último seja um pouco sombrio. O quinto livro é o mais sombrio de todos porque há uma ausência de antecipação e uma atmosfera opressiva. Eu acho que, por causa disso, as pessoas não gostam muito dele. Mesmo que exista leitores que prefiram este livro aos outros, eles estão em minoria. Não acho que o quinto, o sexto e o último sejam adequados para uma criança de seis anos. P: E quando escreveu o primeiro, você pensou em um leitor adequado? JK: Este é o problema. Eu o chamei de história infantil porque a personagem principal era uma criança. Mas sempre foi uma criança que eu queria que fosse mais velha. No final, ele é um homem, um homem jovem, mas um homem. Esta é uma coisa incomum em livros infantis: o protagonista crescer. E me deixa muito feliz que as pessoas continuem lendo e apreciando os livros. Eles envelheceram com Harry Potter. Mas nunca pensei que adultos pudessem ser leitores em potencial. P: Peter Mayer, o editor, a primeira pessoa que ouvi falando sobre Harry Potter na Espanha, disse que a chave do sucesso é a série ter se tornado material de leitura para adultos. JK: Sim, é inacreditável. Só agora sou capaz de olhar pra trás e me dar conta de tudo. Por 10 anos eu não me permiti pensar nisso. Acho que fiz isso para me proteger. É muito difícil viver com a pressão, mas eu vivi constantemente negando os fatos. Depois de cada publicação eu me convencia a não ler nenhuma crítica.P: A literatura salva as pessoas, ou ajuda a salvá-las. Como a escrita lhe afetou? JK: Deixe-me contar uma coisa: simplesmente, o fato de escrever o primeiro livro, salvou minha vida. Sempre me dizem que o mundo que criei é irreal; foi isso que me permitiu escapar. Sim, é verdade, é irreal até certo ponto. Mas não porque meu mundo era mágico, mas sim porque todos os escritores se esquivam deles mesmos. Além disso, eu não escrevi apenas para escapar, mas também porque buscava entender idéias que me preocupavam. Idéias como amor, perda, separação, morte... e tudo isto está refletido no primeiro livro.P: O que mais o primeiro livro te deu?JK: Escrever aquele livro me deu disciplina, um foco e ambição... que na época estava reduzida a ver o livro ser publicado.P: Como foi o dia da publicação? JK: Eu vi meu sonho se realizar. Foi um momento extraordinário. Não podia acreditar, era arrebatador. E de algum jeito, quase imediatamente, senti como se um trem estivesse me empurrando a toda velocidade, como em um desenho animado. Pensei: "O que aconteceu comigo?" Três meses depois recebi um incrível adiantamento, para os padrões daquela época. Naquele tempo, eu alugava um apartamento. Não tinha bens ou economias. Usava roupa de segunda mão. O dinheiro estava escasso, e receber tanto sem esperar era extraordinário. Aquela noite eu não pude dormir. No dia seguinte, jornalistas começaram a aparecer, deram-me um importante prêmio, o The Sun me chamou para comprar os direitos da história da minha vida e os jornalistas começaram a montar guarda em frente à minha casa. E deixe-me lhe contar uma coisa: aquilo me assustou muito. P: É por isso que você tem medo de jornalistas? JK: Não, eles não me dão medo. Lembro particularmente de dois jornalistas que notaram minha incredulidade e vulnerabilidade e me ajudaram. Um deles disse que eu tinha todo o direito de manter minha filha longe da pressão porque me recusava a levá-la comigo às entrevistas e não deixava que a fotografassem. Estou falando da pressão deste país, do Reino Unido. É assim que funciona. P: Seus livros parecem estar cheios de detalhes pessoais. JK: Normalmente uso datas importantes. Quando leio uma data ou número, eu uso algo relacionado a minha vida pessoal. Não sei porque faço isso, é um tique. O aniversário do Harry é no mesmo dia que o meu, por exemplo. Os números que aparecem ou as datas que estão nos livros estão relacionadas à minha vida. P: Escrever seu primeiro livro te deixou extasiada. E a pressão do sucesso, saber que milhões de pessoas esperavam seu trabalho?JK: Tomei uma séria decisão de não pensar nisso. Obviamente havia momentos em que alguns itens novos foram filtrados, principalmente nos livros quatro e cinco. Neles você pode notar a pressão, parece evidente na escrita. P: Como isso aconteceu? JK: Quando cheguei ao quarto livro estava exausta. Eu havia escrito um livro por ano ao mesmo tempo em que criava minha filha, sem uma babá ou ajuda de qualquer tipo. E eu pensei "Não posso mais fazer isso, tenho que parar." Disse isso ao meu editor, disse que se continuasse deste jeito eu não poderia mais continuar a escrever. E então conheci o homem que é agora meu segundo marido. P: Você é Harry Potter. Você diz: "Harry é meu". Você sempre soube como terminaria? Sempre soube que haveria sete livros? JK: Sempre soube o que aconteceria. Desde o começo eu tinha toda a trama delineada, sem os detalhes, mas sempre soube onde a história terminaria. E terminou, mesmo que muitos fãs não tenham gostado, não tem como reviver a história de Harry. A história dele terminou. Mas terminá-la foi muito difícil. Foi devastador. P: O final é comovente: "a cicatriz não incomodara Harry nos últimos dezenove anos." JK: É simbólico. Nós todos repetimos sempre a mentira de que o tempo cura tudo. Isto não é verdade. Existem coisas que não são curadas, por exemplo quando alguém que você ama morre. P: Você também escreveu: "Harry Potter, o menino que sobreviveu". O Professor diz isto e você diz que ele viveu porque tinha fé em suas convicções, e graças a isso derrotara Voldemort. Você é assim? JK: Eu diria que sim, porque acredito em um herói com atributos heróicos. Li em um site: "um herói não é mais valente do que os outros. Só é valente por cinco minutos a mais...." Harry é assim. P: Em todos os livros há a moral de que podemos nos salvar se tivermos amigos, mas a história de Harry também fala de solidão. JK: Concordo totalmente. Eu dei a Harry minha culpa, que é a tendência em calar-me, em me isolar quando estou sob pressão, triste ou feliz. Eu tendo a me isolar. Mas sei que não é bom, que não é saudável. Eu dei isso a Harry. Mesmo que seja o que o torna heróico, é isto que o prepara para atuar sozinho. P: Harry é seu herói? JK: Sim. Bem, na vida real, meu herói é Robert F. Kennedy. Criei um garoto que tenta agir moralmente, que mesmo sendo atacado e machucado física e emocionalmente, continua a ser atraído pelo lado bom das coisas. E ele é genuíno e leal, eu vejo heroísmo em todas estas coisas. P: Imagine que, por um momento, você tem a habilidade de se tornar invisível.JK: Ser invisível? Isso seria o melhor…. (Sobre F. Scott Fitzgerald): P: Ele bebe para se encontrar, para ficar sozinho? JK: Sim, mas seu parceiro escolhido diz muito. As pessoas por quem somos atraídos dizem muito sobre nós. Ele poderia ter tido uma vida de paz com sua esposa, Zelda. Escolheu estar com alguém que tornava impossível escrever. Não tinha aquela paz, tão necessária, quando precisava criar alguma coisa.(Sobre a foto da Senadora Clinton na Time Magazine): P: Chorar pode ser uma maneira de rir? JK: Poderia ser. Neste caso, depois de ler a notícia, aquela lágrima era, com certeza, de felicidade. P: Nós, almas flutuando por aí, procurando por o quê? JK: esta é a grande pergunta, mas espero que não tenhamos que voltar! Eu não quero voltar! (Depois de afirmar que não lê críticas): P: E você realmente fazia isso? JK: Sim, é muito bom não estar ciente das críticas ou do que está sendo falado sobre você. Eu escrevi o que queria. Quando terminei o sétimo livro pensei que era o melhor escrito. Era o livro que eu queria escrever. Fiquei mais satisfeita com aquele livro do que com qualquer outro. Se tivesse lido alguma crítica, que bem teria feito? Estava escrito, não havia mais nada a fazer, mas agora eu me permito olhar para trás e o que acontece é o que você acabou de dizer: adultos começaram a ler livros para seus filhos e depois continuaram a ler para eles mesmos. Não há nada mais gratificante que escutar as pessoas dizendo que toda sua família lê o livro reunida. Eu escutei muito isto. Eles leram um capítulo juntos, depois se reuniram para ler o próximo. É inacreditável, não é? Muitas famílias me disseram que fizeram isso e é gratificante, de diversas maneiras. O livro se tornou um ato social. P: Você fez isso com Jessica? Fará isso com seus outros filhos? JK: Jessica tem catorze anos e é uma admiradora fervorosa de Harry. P: O que ela te perguntou após ler os livros? JK: Perguntou porque eu fiz uma coisa ou outra, e a minha resposta foi de que este era o jeito que tinha que acontecer. Sim, algumas vezes você dá uma resposta automática, como se algumas coisas fossem feitas por pequenos mecanismos, elementos que ajudaram na trama. De outro jeito, é difícil explicar o processo da escrita. Algumas vezes eu escrevia como se algo ou alguém estivesse me dizendo o que escrever. P: Você poderia descrever o que seria este algo? JK: Existem muitas respostas para esta pergunta. Eu poderia dizer: "era eu, era meu subconsciente." Sim, era meu subconsciente, então o que escrevi vem de tudo que fiz e das pessoas que conheço, porque tudo e todos estão em algum lugar da minha cabeça. Ou eu poderia dizer que foi a inspiração, e gosto de pensar que foi assim, porque isso significa que o escritor não está ciente da origem do que está escrevendo, ou ao menos não está totalmente ciente disso, e eu sei que é uma palavra clichê sobre os livros de Harry Potter, mas eles são mágicos. (Sobre a vida de celebridade aos olhos do público) : P: As pessoas estão cientes sobre sua vida, sobre como você está bem financeiramente, mas não tanto sobre o quanto você é humana. Dizem que lhe imaginam com uma varinha igual a de Harry Potter.JK: Infelizmente, é assim mesmo. Quando vejo meu nome em listas sobre pessoas poderosas, algo que não faço muito, fico pensando. Poder não é algo que eu queira e, adicionando, eu não o tenho. Sim, eu sou rica. Eu consegui muito dinheiro, e estou grata a isso, mas é assim que funciona. Quando as pessoas me abordam e perguntam quanto dinheiro eu tenho... outro dia eu estava na rua e uma mulher apareceu e perguntou se eu era J. K. Rowling. Eu disse sim. Ela disse, então: "você merece tudo que tem." Não acho que ela estivesse falando sobre o dinheiro. Quando alguém diz algo assim para você é maravilhoso; mas acho que a obsessão por dinheiro é global, aqui no Reino Unido temos listas, milhões de listas, as pessoas mais ricas acima dos 40, abaixo dos 40... para a qual não me qualifico mais, porque estou com 42 anos... a riqueza é uma obsessão, não sei se é assim na Espanha. P: Você está feliz? JK: Muito mais do que já estive. P: Do que você gostaria de se livrar? JK: Estou aliviada de ter envelhecido aceitando e conhecendo quem eu sou. Quando tinha 20 anos, e durante toda aquela década eu passei por maus momentos... acho que acontece com muitas pessoas: não se fala disso. Cometi muitos erros; alguns deles foram bem ruins. Agora me sinto muito mais confiante. P: A fantasia na literatura completa as pessoas.JK: Sim, é verdade. Os humanos precisam de fantasia e mágica. Nós precisamos de mistério. O Senhor Frank Frasier disse que, na religião, o homem depende de Deus, mas na magia depende dele mesmo. O que nos permite medir a capacidade do homem e a mágica se torna um ideal existencial. A magia carrega a existência humana, no livro 6 o Primeiro Ministro fala para o Ministro da Magia "vocês podem fazer bruxarias! Com certeza são capazes de resolver… bem… qualquer coisa!" e o Ministro responde: "Sim, o problema é que o outro lado também é capaz". Nós precisamos de uma varinha mágica e eu defendo isso. Mágica é uma parte muito importante na literatura e é por isso que sempre vai estar ali. P: Há este diálogo entre Harry e Dumbledore: "Isso é real? Ou esteve acontecendo apenas em minha mente?" JK: E Dumbledore diz: "é claro que está acontecendo dentro de sua cabeça, Harry, mas por que isso significaria que não é real?" O diálogo é a chave; Eu esperei dezessete anos para escrever estas falas. Sim, é verdade. Todo este tempo eu trabalhei para que pudesse escrever estas duas frases; escrever sobre Harry adentrando a floresta e sobre Harry tendo este diálogo.P: E, algumas vezes, Harry está no mundo real. JK: Claro. É importante ter luz e escuridão. O que aconteceu de uma maneira diferente do que eu pensava, foi a ida aos Dursleys ter se tornado algo cômico. Uma vez que Harry envelhece e continua ganhando poder e confiança, ele se encontra melhor que os Dursleys, e o lugar da escuridão e do mal é exatamente o que costumava ser um mundo de luz e magia. Esta família cruel torna-se engraçada e, no sétimo livro, ela torna-se patética quando se descobre que a tia dele era uma mulher invejosa e, do ponto de vista de Harry, arrasada emocionalmente.P: Seu editor espanhol queria que eu perguntasse no que a família Dursley acreditava. JK: Bem, eu tenho que escrever um oitavo livro. (risadas) Sério, eu pensei que não fosse necessário escrever sobre os Dursleys. Eu pensei que o leitor saberia que eles estavam sendo protegidos e que não precisavam se esconder. Quando fãs me perguntam isso, eu falo para eles que, graças ao último encontro entre Harry e Duda, eles podem tentar ter uma amizade, que eles enviam cartões de Natal e se visitam de vez em quando. Seria estranho, mas eles tentariam para manter contato. Eles nunca seriam bons amigos, mas tentariam ter uma amizade... Duda sabe que o Harry salvou sua vida. Bem, ele acha que ele salvou sua vida, mas na verdade salvou sua alma. P: Existem mais cicatrizes deixadas em sua vida, na vida do Harry? JK: Se você está perguntando se vou escrever mais livros, se tenho negócios a terminar, a resposta é sim... Mas o Harry, eu o coloquei trabalhando no Ministério, acredito que exista um meio de se livrar da corrupção e o vejo batalhando nisso, mas ele se tornou um pai de meia idade que se preocupa se seus filhos estão bem na escola. P: No mundo real. Sem varinha mágica? JK: Não, sempre com uma varinha. P: Você tem esta varinha mágica? JK: A inspiração não seria uma varinha? P: Você ainda escreve com uma pena? JK: Sempre.P: Talvez esta seja a varinha mágica... JK: É, talvez seja... veja: a varinha mágica acabou com meu dedo por usá-la demais. P: Você disse que teria escolhido a Pedra da Ressurreição, assim como Harry escolheu. JK: E eu teria escolhido errado... acho que quando alguma coisa morre, ela pertence a outro lugar, todas pessoas têm responsabilidade com outras. Eu a tenho com meus filhos e se eu tentasse resgatar alguém da morte, não seria bom para eles. Minha obrigação é com os meus filhos e seu futuro. A ressurreição é uma grande tentação, mas é perigosa. P: Talvez escrever seja algum tipo de Pedra da Ressurreição. JK: Sim, com certeza, mas acho que você se dá conta de que escreve para fazer um sonho se tornar realidade. Se for assim, para mim, escrever perde seu valor. Descrever sua fantasia não é a mesma coisa que criar um mundo.

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