segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O Maior Tesouro do Homem

Naquela que poderia ter sido apenas mais uma monótona e cansativa viagem de trem entre Manchester e Londres, deu-se início a um novo mundo; toda uma dimensão que, mal fazia idéia Joanne Kathleen Rowling, tornar-se-ia a realidade desejada por grande parte das gerações seguintes, levando muitos a fazer o possível – e o impossível – para incorporá-la ao seu modo de viver. O universo criado ao redor de “Harry Potter” passou a ser uma espécie de “estilo de vida” para alguns, levando outros a criticar a obra somente pelo fato de considerar o fanatismo por parte dos apreciadores da mesma um modismo passageiro.Tintura e modelos de cortes para cabelos; vestes, acessórios e até mesmo gestos usados e desenvolvidos pelos personagens – fãs não medem esforços quando o assunto é tornar a ficção mais próxima da realidade. Há, porém, pessoas que não entendem os verdadeiros significados de circular pelas ruas com o cabelo na cor rosa-chiclete, usando um bico de pato no rosto preso por um barbante, indo de encontro a um grupo composto por garotos usando óculos de lentes redondas, com uma cicatriz na testa, e garotas de cabelos vermelho-fogo, trajando longas vestes negras, empunhando varinhas. Consideram “Harry Potter” mais uma obra para compulsivos por futilidades excêntricas, sem saber os reais motivos causadores de toda a verdadeira devoção ao trabalho de Rowling.


Não se trata apenas de livros, filmes ou paixão platônica por atores ou personagens. O sucesso de “Harry Potter” é devido principalmente à genialidade de uma mulher, capaz de fazer uma perfeita intersecção entre realidade e fantasia, num enredo que nos leva a aprender com as vitórias e as derrotas das personagens; faz-nos tentar conter – inutilmente – as lágrimas, quer de tristeza por mais uma perda, quer de alegria por mais uma conquista, narradas em cada página; que nos faz agradecer aos céus por sabermos que Você-Sabe-Quem certamente não irá pular de dentro de um latão de lixo em qualquer esquina, pronto para um duelo, mas ao mesmo tempo faz-nos desejar intimamente que houvesse essa possibilidade.


O mundo perfeito. As situações não tão perfeitas. Os heróis imperfeitos.


Mais que uma legião de leitores insaciáveis, J.K. Rowling criou com sua obra uma forma de fazer com que as pessoas revejam seus conceitos, mostrando-lhes que é possível remodelar o próprio caráter, com a simples revelação de que nunca é tarde para se fazer o que é certo. Com isso, empunhar varinhas e usar falsas cicatrizes passa a ser motivo de orgulho para um “pottermaníaco”; uma espécie de tributo às personagens que tanto nos despertam as emoções.


Como diria Rowena Ravenclaw, conhecimento representa grandeza de espírito, o maior tesouro do homem. Em contrapartida, fica claro que o preconceito é a única defesa dos pobres de espírito, os que não se dão o trabalho de conhecer o que criticam, e perdem, com isso, a maravilhosa e indescritível sensação de viver, mesmo que por alguns minutos de leitura, num mundo mágico.

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